sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Bel


Nunca fiz questão de moda...e sempre que a segui foi muito mais por uma questão social do que estética. Vide meus cabelos, que sempre mantive naturalmente cheios e cacheados, na tentativa incessante de demonstrar toda a minha personalidade. Porque pra quem não sabe, os cabelos, normalmente, podem descrever uma mulher. E os cabelos cacheados então...


Era um conjunto de cachos, contrariando essa ditadura da chapinha ou mesmo a ideia de que cabelos cacheados devem obrigatoriamente ser cheios e definidos, ou não são bonitos. Mentira. Seus cachos eram ralos e sem forma definida, sem aquele ar artificial. Totalmente naturais e revoltosos. Os mais lindos que já vi.

E se acompanhasse o comprimento dos fios de seus cabelos, logo abaixo encontrava suas costas perfeitamente delineadas, que vinham desenhando sua cintura e, em medida perfeita, chegava ao quadril.

Ela estava de costas. Sua risada alta e discreta também chamou a minha atenção, me deixando cheia de vontade de ver melhor, de frente e de perto, a dona daquelas curvas discretas. Sim, discretas, mas estavam lá.

Me aproximei do grupo dela esperando a oportunidade ideal para puxar assunto. E não demorou muito para que ela virasse de frente para mim. Foi bastante simpática comigo, sem oferecer nenhum impedimento quando eu, no auge da minha cara de pau, puxei assunto. Como? Perguntando as horas.

Depois de quatro caipivodkas, muitas risadas e uma ida ao banheiro dizendo que voltaria – e voltou – eu a beijei.

Ela podia não ser a mais gata ou a mais gostosa. A mais simpática? Talvez. Mas, com certeza, era a escolha certa. Beijo encaixado. Cheiro instigante. Mãos nervosas. E a pegada...excitante o suficiente pra que eu abrisse os olhos e me visse jogando-a na parede, com uma atitude que não era minha. Eu estava adorando.

“Você é maluca?” ela disse rindo muito, depois que perguntei se não queria ir pra minha casa. A desculpei silenciosamente pela indelicadeza quando me lembrou que havíamos acabado de nos conhecer.

– Não seja por isso – eu disse – Nome?

– Maria Isabel, mas pode me chamar de Bel.

– Idade?

– 18, quase 19.

– Céus! Sou quase pedófila!

Risos.

– E mora onde?

– Ah...perto.

– Perto onde?

– Perto, vai...

– Hmm...ta..deixa eu pensar....

Ela riu.

– Que foi? - perguntei, também rindo.

– Pára com isso, vai...

Me beijou.

E depois de mais daqueles beijos perfeitos, abri os olhos e nos vi no tapete da minha sala. Na sei se o que a havia convencido fora a minha boa índole. Ou meus lindos olhos mel. Mas preferi acreditar no potencial de meus demais atributos e parar de pensar nisso.

Ela me levou às nuvens, aos céus, às estrelas, ao êxtase! Foram duas horas de muito suor e tato. Felizmente terminados em mútua satisfação e pernas bambas.

A minha imitação de tapete persa, vermelha e laranja, de um metro e oitenta por dois, nunca pareceu tão confortável. Ficamos por lá mesmo. Abraçadas como se não fosse a primeira vez.

Conversamos por muitos minutos. E, pra minha surpresa, ela tinha realmente um bom papo. Me peguei muito mais feliz com isso do que julguei necessário. Mas ela tinha algo diferente, ou melhor, despertava em mim algo diferente. Uma atitude que não me pertencia. Mas antes que eu pudesse divagar sobre, senti suas mãos delicadas passeando pela minha barriga. Umbigo... Virilha... Coxa... E seu quadril fazia movimentos – involuntários? – enquanto sua perna abraçava as minhas, me deixando exposta a todo o calor e umidade que tomava conta das partes mais íntimas da dona daqueles cachos.

Os cachos! Sem pensar, acariciei sua nuca com as mãos, entrelaçando meus dedos nos seus cabelos. Fechei as mãos e, esperando que com a medida certa, puxei. Pelo que veio em seguida, descobri que havia acertado. E descobri também que seus gemidos me deixavam com ainda mais vontade.

E numa sequência de movimentos que não reconheci como meus, me vi em cima dela. Minhas mãos passeavam pelo seu corpo perfeito, acariciando e descobrindo como aquele gesto era excitante pra mim. E enquanto meus dedos exploravam sua pele quente, nossas línguas se acompanhavam pelo que descobri ser o melhor beijo que já provei.

Era diferente. Diferente de todas as vezes. Eu sempre era recobrada de volta à realidade por algum motivo, o que me obrigava a interromper meu prazer, mas não agora. Tinha consciência dos meus atos, fazia coisas que nunca tinha feito antes mas que, logo notei, sempre quis fazer. Tinha medo de não conseguir, não saber, ou não gostar. Mas os ruídos que saíam de sua boca insistiam em me desconectar destes pensamentos e me convencer de que só podia estar fazendo tudo certo.

Mais excitante que seus gemidos era saber que eu os provocava. Eu...meus dedos....minha língua...meus lábios...meu corpo. Era eu, inteira e completamente responsável por todo calor que transbordava dela. Me declarava culpada. Culpada com e por todo o prazer.

Sua pele tinha um gosto delicioso. A começar pelo pescoço... colo... seios...barriga...

Um breve instante de insegurança me fez ameaçar parar o que fazia. Então senti suas mãos nas minhas, conduzindo-me à sua vontade. E quando soltava, eu já tinha aprendido o caminho. Ela deixava. Ela queria. E eu, obediente, continuava.

Fui novamente ás nuvens, aos céus, às estrelas, ao êxtase! Mas dessa vez, de um jeito diferente. Mas tão delicioso quanto antes.

Atenta aos detalhes, percorri todo o seu corpo, sentindo o gosto de cada pedacinho, na tentativa de proporcionar a ela a sensação perfeita.

A melhor que já havia feito, eu estava me deliciando enquanto experimentava a sua intimidade. Com movimentos suaves e desengonçados, excitava-me cada vez que notava um mínimo indício de satisfação, pelo meu desempenho, da sua parte. Não tinha o gosto estranho e difícil que eu esperava. Surpreendia-me ao notar que estava realmente gostando.

Seu cheiro me excitava. Sua excitação me enchia de prazer. Seu gosto me satisfazia de um jeito único!

Era quente...

Meus dedos, minha língua e todo o meu corpo tinham uma vida própria, de puro instinto, que tornavam simplesmente desnecessário qualquer racionalidade naquele momento.

E eu aprendia, com meu instinto, que tinha um tato apurado.

A excitação fazia com que meus movimentos ganhassem velocidade.

Era úmido...

E aceleravam mais.

Era quente, úmido e gostoso...

Eu não conseguia parar.

Ainda quente, ainda gostoso, agora molhado...

Tato e paladar...juntos. Eu não queria parar.

Molhado, quente, gostoso e excitante...

Sentia algo escorrer pelo meu rosto e deslizar pelo meu pescoço, enquanto ela, sem pudor algum, contorcia-se em meio a gemidos e espasmos.

Gemidos e espasmos que aumentavam gradativamente, assim como a cumplicidade dos meus sentidos.

Os espasmos diminuíram. E os gemidos transmutaram-se em respiração entrecortada e ofegante. E ela me puxou para o seu lado, olhando nos meus olhos e abrindo um sorriso largo e lindo. Nesse momento, achei que tinha acabado. Estava bom assim. Não havia como melhorar.

Doce engano o meu.

Esquecemos completamente do tempo. Não fazíamos a menor questão de saber as horas. Simplesmente não queríamos parar.

Foram mais do que minutos, foram horas. Não algumas horas, mas todas as horas de uma noite e, depois, todo um dia. Um dia de completa e prazerosa dedicação ao êxtase.

E na manhã do dia seguinte, lá estávamos.
Eu, meu tapete e um sem-número de borboletas ridículas que começaram a voar dentro da minha barriga quando olhei pro lado e vi aquele pedaço de papel com um número de telefone.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Autoconfissão

É uma daquelas noites em que não consigo dormir...Mas eu tento.
Deito, viro, reviro. Tento achar aquela posição ideal, na qual você permanece e acaba por pegar no sono de repente, mas não encontro a posição e, menos, o sono.
Me canso de ficar ali deitada, porque...sei lá! Não me adianta de nada mesmo.
Então levanto...sem saber muito o que fazer agora.
Me sinto tão cansada, e desperta ao mesmo tempo.
Sou incapaz de decidir. Sinto que meu corpo pode decidir sozinho, reagir sozinho...
Minhas pernas andam antes que eu me dê conta do destino a que estou sendo levada. Apenas deixo que me levem.
E minha mente? Voa...E questiona: o que aquela pessoa estaria fazendo agora? E imediatamente me pergunto se realmente quero saber.
E como a mente é perigosa. E livre! O que a torna ainda mais perigosa, e excitante. Ela voa pra mais longe, no tempo. E antes que tenha tempo de questionar, como que em uma sinfonia perfeita, meus lábios esboçam um sorriso discreto e sincero. E intimamente esclarecedor ao reconhecer as noites de sono perdido nas salas alheias de outrora. Memórias que povoam minha mente sem pedir autorização.
Mas sabe que...eu gosto! Será que isso é saudade? Não...Creio que ter boas lembranças e ficar feliz por tê-las não significam necessariamente que se queira que elas voltem.
Que não me arrependo de nada, eu tenho certeza. Bem como sei que faria tudo de novo...naquela época. Porque agora os tempos são outros. São tempos de insônia por serem outros tempos...

Meu corpo me leva, enfim, para onde eu não quero e não devo estar...e talvez agora eu veja algum sentido e ironia instalados nos pensamentos a que antes havia sido levada.
Outro lugar. Outra pessoa. Mas não a mesma vontade, dessa vez eu realmente não quero, mas estou fazendo. E é bom. É gostoso, de verdade. Mas também é diferente, de um jeito que definitivamente não sei explicar. Tudo que sei é que acabou...o sono que não veio, o prazer, as promessas de não contar a ninguém, o gozo, a chuva que caiu por toda a noite...
Então me dei conta de que estava em minha cama, com meus lençóis e minhas lembranças...e toda vontade de não saber se foi tudo só um sonho.